CRISE FISCAL: Às vezes demoramos para ver a porta aberta

No Brasil, cria-se órgãos novos, mas não se extingue aquilo que já não funciona bem. Ninguém se iluda: parte dos recursos contingenciados - e consequente investimento limitado - não poderão ser aplicados porque o Tesouro Nacional precisa cobrir rombos na pesada máquina estatal.
Adriano Villela

Há uma semana, acabei esquecendo uma das portas do carro semi-aberta. Nada de grave aconteceu, mas a importância que outros motoristas davam ao fato  foi, no mínimo, supreeendente. Até fechada aconteceu para avisar de algo que nada afetou o trânsito. Fico a imaginar o que fariam se fosse um pneu furado ou uma fumaça saída do motor. Ou se fosse eu que fechasse estes proclamados experts do volantes.

O mesmo está ocorrendo na economia brasileira. Uma porta foi aberta, no sentido positivo, e nossos governantes não enxergaram a tempo. Agora correm para corrigir o rumo, mas pode ser tarde. Direto ao ponto: se o Banco Central reduziu os juros básicos agora em 0,75 ponto percentual é porque havia margem para o corte antes. Como resultado, a inflação é menor do que esperávamos, mas o crescimento nem dá sinais de vida.

Em tese, com a inflação dentro da meta em 2016, juros caindo, confiança empresarial e do consumidor se recuperando e a PEC do teto dos gastos sinalizando o controle sobre a dívida pública, estaríamos próximos de sair da recessão.  Pelo contrário, o contingenciamento adotado este mês pelo Ministério do Planejamento mostra que o cenário real trabalhado pela equipe econômica não é o de expansão na produção.

Mas a redução mais rápida da Selic é passado. Devemos ver agora outras portas que estão se abrindo e não percebemos. Um deles é o de diminuição do tamanho do Estado, opção melhor do que cortar investimento. Com o desemprego e a inadimplência altas, dificilmente o PIB voltará a evoluir pelo lado do consumo. Isto é, é preciso antes a volta do investimento. E, provavelmente, este movimento deve sair do poder público.

Como enxugamento da máquina pública, refiro-me  o sustento da pesada estrutura estatal. Salvador, por exemplo, tem uma sede do Ministério da Agricultura, sem cultivar nenhuma lavoura. O país acumula hoje mais de 130 estatais. No máximo, 30 têm de fato alguma serventia. E mesmo aquelas que prestam a alguma atividade essencial, há casos como o dos Correios. A EBCT teve prejuízos de R$ 2 bilhões em 2015 e 2016, em razão (dentre outros motivos) de se manter a mesma empresa da época em que se envia cartas, e não e-mail.

No Brasil, cria-se órgãos novos, mas não se extingue aquilo que já não funciona bem. Ninguém se iluda: parte dos recursos contingenciados - e consequente investimento limitado - não poderão ser aplicados porque o Tesouro Nacional precisa cobrir rombos como nos Correios, bem como a manutenção de obras paradas.



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