CRISE ECONÔMICA: Devemos comemorar a queda na inflação?

Não é que o aumento do custo de vida seja positivo para a economia brasileira, mas vejo no cenário atual um descompasso entre fatores macroeconômicos, situação que - no mais das vezes - sinaliza mais para novos distúrbios no futuro

Adriano Villela

Em meio a caos no sistema penitenciário, investigações da Lava Jato e alto índice de impopularidade, o governo federal tende a comemorar bastante a queda da inflação. O índice oficial IPCA deve ter fechado 2016 ou no teto da meta (6,5%) ou até em níveis menores, gerando uma expectativa de se alcançar o centro da meta de 4% ainda em 2017. Será que há mesmo motivos para se festejar? Afinal, pressão inflacionária menor não gera empregos.

Não é que o aumento do custo de vida seja positivo para a economia brasileira, mas vejo no cenário atual um descompasso entre fatores macroeconômicos, situação que - no mais das vezes - sinaliza mais para novos distúrbios no futuro. O problema é que se conquistou o recontrole da inflação, e até um câmbio menos turbulento também, sem nenhum sinal de retomada do crescimento. O primeiro trimestre com PIB positivo ainda não é percebido no horizonte. Um IPCA entre 7% e 7,5% com um sinal de PIB se reerguendo se apresentaria como conjuntura melhor para o país.

A economia brasileira sempre buscou uma tábua de salvação em uma âncora macroeconômica. Já tivemos tabelamento de preços, câmbio fixo, juros altos, consumo reprimido, foco nas exportações e, mais recentemente, obras de infraestrutura combinada com inclusão da chamada nova classe média em um consumo mais efetivo. Desde que fiz Especialização em Administração (2006), vejo com cada vez mais clareza que os fundamentos macroeconômicos devem ser trabalhados com vistas a um equilíbrio simultâneo entre eles.

JUROS
Portanto, uma redução  maior nos juros cogitada no momento é até positiva - a inflação menor também -, mas será certamente insuficiente se o governo federal, principalmente, não olhar a conjuntura por completo. As concessões foram apresentadas como grande saída pelos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, mas praticamente não saíram do papel.

O trabalho do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, aparece mais na negociação com os governos estaduais e na repatriação, e nem nestes itens vislumbramos uma solução efetiva de nossos problemas. Nada que fomente o crescimento se efetivou. As reformas da Previdência e Trabalhista e o teto dos gastos geraram mais dificuldade na solução da crise política do que um alento na economia.

GOVERNANÇA
Uma sugestão para finalizar: além dos juros menores, de regras que diminuam a inadimplência e de mais celeridade nas ofertas de concessão, o governo deveria apresenta um pacote na área da governança. A Lava Jato não produziu a crise econômica - desde 2012 analistas já apontavam inadimplência e inflação crescentes -, mas sem dúvida a imagem arranhada pelos escândalos afeta o ambiente de negócios.

A Petrobrás criou uma diretoria neste setor e suas ações estão se recuperando. No setor privado, a Odebrecht aposta em uma atuação em conformidade com as leis e seus próprios valores para voltar a ter pujança no mercado. Por que o governo federal não faz o mesmo?

Ninguém vai querer investir mais ou perder direitos trabalhistas ou previdenciários ou pagar mais impostos sem confiar nas ações do governo. Ou alguém está mesmo disposto a pagar pela corrupção de terceiros?

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